google9749989f43d3e11e.html

ONE STORY IS NOT ENOUGH | 2019

sculpture, dialogue, word, sculpture

The exhibition “One story is not enough” comprises a selection or works by Sandra Baía that enables the establishing of various itineraries that the artist has traversed in her approach to the perennial relationship between word and the temporary precariousness of matters.

One of such itineraries explores a necessity for confrontation with the other, a manifestation of otherness in the public space causing encounters at times quite subtle, even when the works’ installation transmutes their scale and proportion. Outside the gallery, the works institute themselves as disruptive agents of the inhabited urban landscape or as the memory of a transition state between presence and the residue of something absent, something that resists precariously in the mirroring surfaces with which the artist works. In this respect, the systematic use of industrial processes for the realisation of installations, objects and sculptures is anchored on a vocabulary of materials revealing an austere thinking, on one hand, minimalist with regard to the economy of means and materials, and, on the other hand, excessive by reason of the spatial construction that they project on to the observer, moving closer to a romantic and fictional splendour. As an example, the dialogues between the works may be mentioned, which, being apparently similar, erect different meanings in the space. Two spheres are positioned in a contradictory relationship between interior space and outer space. One of them creates an obstruction in the space, however as an ovoid screen, while the other absorbs and reflects the ambiance where it was installed. The sensorial experience may seem similar by reason of the reflective visuality, but the modulation of space and the repositioning of the body that observes undergo a continuous transformation.

Another potential dialogue, involving works in which the inscription of the word is decisive, reconnects the interior architecture of the gallery with the space on the outside, the street: a mupi, an object of urban equipment, is installed in the window with no poster or opaque surface that characterises it whatsoever, becoming a sculptural structure containing a small neon inscription with the word “WORLD”, drawn as if it were a brief note, or even a signature, almost illegible. This work establishes a relationship with a large-scale piece created to a public place, the Terreiro das Missas, in Belém, Lisboa. This work, “Is There a Place Before Arriving”, is the poetic form to signal this anterior place, as an announcement to the pre-existing condition of the path, as a metaphor of the resistance that such path demands, knowing only one destination, in a ludic sense, which is the word.

Another sculpture strengthens this duplicity by the confrontation between four black erecting planes, split by the opposition between the black mirror, as magical objects, and the torsion that opposes it, battered and more organic, perhaps sonorous in its apparent immobility. All the dialogues here enunciated are readings that the artist develops within her own work, reintegrating methods and techniques into another dialogue between manufacturing and industrial production.

Sandra Baía creates approximations to the model of a layered map of fictional itineraries, as in an inscription signalling the world (“WORLD”) which, however, is not in the foreground, or by unveiling affections that rescue us from the emotional sphere, in a work of uneven elements, apparently symmetrical, entitled “Family”.

João Silvério

ONE STORY IS NOT ENOUGH | 2019

escultura, diálogo, palavra, escultura

A exposição “One story is not enough” compreende uma selecção de obras da autoria de Sandra Baía que permite estabelecer vários itinerários que a artista tem percorrido na sua abordagem à relação perene da palavra com a precaridade temporária das matérias.

Um desses itinerários explora uma necessidade de confrontação com o outro, enquanto alteridade que se manifesta no espaço público provocando encontros por vezes muito subtis, mesmo quando a instalação das peças transmuta a sua escala e proporção. No exterior da galeria, as obras instituem-se como agentes disruptivos da paisagem urbana habitada ou da memória de um estado de transição entre a presença e o resíduo de qualquer coisa ausente, que resiste de forma precária nas superfícies espelhadas que trabalha. Neste aspecto, o uso sistemático de processos industriais para a realização das instalações, objectos e esculturas estriba-se num vocabulário de materiais que revela um pensamento austero, por um lado minimalista no que respeita à economia dos meios e das matérias, e por outro lado excessivo na construção espacial que estes projectam sobre o espectador, aproximando-se de um esplendor romântico e ficcional. Como exemplo, podemos referir os diálogos entre peças que, sendo aparentemente semelhantes, constroem diferentes significados no espaço. Duas esferas posicionam-se numa relação contraditória entre espaço interior e espaço exterior. Uma delas cria uma obstrução no espaço, mas como um ecrã ovóide; enquanto a outra absorve e reflecte o ambiente onde foi instalada. A experiência sensorial pode parecer semelhante na visualidade reflectora, mas a modulação do espaço e o reposicionamento do corpo que observa sofrem uma contínua transformação.

Um outro potencial diálogo, entre obras em que a inscrição da palavra é decisiva, religa a arquitectura interior da galeria com o espaço que lhe é exterior, a rua: um mupi, objecto de mobiliário urbano, encontra-se instalado na montra sem qualquer cartaz ou a superfície opaca que o caracteriza, transformando-se numa estrutura escultórica que contém uma pequena inscrição em néon com a palavra “WORLD”, desenhada como se fosse um breve apontamento, ou mesmo uma assinatura, quase ilegível. Esta obra estabelece uma ligação com uma outra, de grande escala e criada para um lugar público, o Terreiro das Missas, em Belém, Lisboa. Essa obra, “Is There a Place Before Arriving”, é a forma poética de sinalizar esse lugar anterior, como um anúncio à condição pré-existente do caminho, como metáfora da resistência que esse caminho exige, conhecendo apenas uma casa de chegada, no sentido lúdico, que é a palavra.

Uma outra escultura reforça essa duplicidade através do confronto entre quatro planos negros que se erguem, cindidos pela oposição entre o espelho negro, como objectos mágicos, e a torção que se lhe opõe, amolgada e mais orgânica, porventura sonora na sua aparente imobilidade. Todos os diálogos aqui enunciados são leituras que a artista desenvolve no interior da sua própria obra, reintegrando métodos e técnicas num outro diálogo entre a manufactura e a produção industrial.

Sandra Baía constrói aproximações ao modelo de um mapa em camada de itinerários ficcionais, como numa inscrição que sinaliza o mundo (“WORLD”) mas que não está em primeiro plano, ou desvelando afecções que nos resgatam à esfera emocional numa obra de elementos ímpares, e aparentemente simétrica, intitulada “Família”.

João Silvério